quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A EXPLOSÃO CONSCIENTE

18 de Abril de 2010.
Domingo.
São 9 e alguns minutos.
A manhã está cinzenta.
Recordo que tive uma noite calma e sem sonhos.
Estou e pijama e roupão à porta da minha casa a fumar um cigarro.
Volto para a cama, a Olinda dorme tranquilamente, ajeito as almofadas e tiro o livro da mesa de cabeceira.
No mais absoluto sossego leio calmamente "O terceiro sexo" da autoria de Raquel Lito até às 10 e meia.
A Olinda acorda e pede-me a agenda dos telefones para ligarmos à Rosa que fazia anos e nesse preciso momento dá-se a explosão!
Na minha cabeça formam-se as palavras e quando abro a boca sai algo completamente diferente. Ela não se apercebe.
Continuo a querer falar, constato a desafinação entre o pensamento e a palavra e ela não se apercebe.
Saio porta fora, tento chamar a minha Mãe que não me ouve e ouço uma voz que não é a minha. A terrível ameaça está à minha frente e o meu cérebro começa a funcionar a 500 à hora. MERDA! ESTOU A TER UM AVC!
Penso no Pai, na Avó, no Ezequiel, no José Cardoso Pires e a temer a destruição do que o minha memória de anos apaixonados de leitura tinha conseguido arrumar até à data.
Irrequieta começo a andar, esmurro as almofadas do sofá porque as palvras não saiem e a Olinda dá-me uma caneta. O meu braço direito está teimosamente dormente e escrevo letras atabalhoadamente.
Pego no telefone, faço gestos desesperados para o tecto a tentar falar e de súbito sai-me claramente a palavra Mãe. A Olinda finalmente despertou e disse-me que vai telefonar para ela. Em menos de cinco minutos ela estava na minha sala. Não me perguntem porquê, mas senti-me meia salva.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

OS ANTECEDENTES

Ao longo de 49 anos sempre me orgulhei de ser uma pessoa saudável. Todas as minhas doenças até à data eram as normais que toda a gente tem e naquela inconsciência achei que continuaria assim, apesar de saber os meus antecedentes genéticos.
Nervosa até à medula e a pouco e pouco fui fazendo os disparates.
O primeiro deles, foi aquela única moda a que eu estupidamente aderi - aos 13 anos comecei a fumar.
Fiz outras coisas que não deixaram consequências e aos 16 anos comecei a apreciar a cerveja.
Fui uma fumadora inveterada, apanhei umas quantas bebedeiras e gostava de comer o que fazia mal.
Não na casa dos meus Pais, pois a alimentação era do mais racional que havia, mas fora nunca virei as costas a um bom petisco.
Tudo se paga é bem verdade, mas nós pensamos que só acontece aos outros.
A pouco fui ouvindo falar em enfartes AVC's e o que podiam fazer.
No final do ano passado tomei a decisão de ir fazer uma bateria de exames.
Andava sobre brasas, embirrava por tudo e por nada, andava estoirada e tudo de mau parecia acontecer na minha Vida.
Quando vi os valores, tinha os "ingredientes malvados" na panela - colesterol e trigliceridos altissimos. Comecei a ponderar numa dieta, pois ía fazer 50 anos, sabia os antecedentes e não queria por nada deste mundo perder as faculdades das quais tanto me orgulho. Já estava em rota de colisão sem me aperceber e derrapei!